segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

Antetempo

Foi-se o tempo da parteira 
E do curado de cobra 
Da qualidade que sobra 
Das rezas da rezadeira 
Daquela sortida feira 
Que de tudo se achava 
Sacos com feijão e fava 
Com suas bocas abertas 
Donas de casa espertas 
Que pra comprar pechinchava 

Foi-se o tempo do cangaço 
Dominando a caatinga 
Beber água da moringa 
Pra amenizar o mormaço 
Do rangido do chumaço 
Dos carros-de-boi cantando 
Os bois pacientes levando 
Com força e com empenho 
A cana para o engenho 
Esse moendo e criando 

Foi-se o tempo em que a criança 
Lá no terreiro brincava 
Seu belo pião rodava 
Como os passos de uma dança 
Da verdadeira festança 
Nas noites de São João 
Que animavam o sertão 
E enriqueciam a cultura 
Enaltecendo a candura 
Do Nordeste essa nação 

Foi-se na foice do tempo 
Trespassada sem piedade 
E toda a modernidade 
Transformou em contratempo 
Num infeliz antetempo 
Tudo está quase esquecido 
Quem a tudo foi vivido 
Fica só com a saudade 
Foi-se a felicidade 
Vem-se um coração ferido.

                                            Junior Fernandes

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