quinta-feira, 15 de março de 2018

Soneto

ANIVERSÁRIO

A cada ano o corpo envelhecendo
Com estigmas cruéis do tempo inimigo
Senescência pra muitos, ser castigo
Bênçãos pra outros, por mais tá vivendo

Cabelos tons vivos, embranquecendo
Antes o robusto, agora é fatigo
Antes na moda, agora é antigo
O que era forte está enfraquecendo

O dia do ano mais esperado
De grande euforia quando chegado
Marcado por todos no calendário

Dia que ao mundo se fez ingressado
Sem roupas, sem posses e sem pecado
O dia da vida, do aniversário.


                                Junior Fernandes

sábado, 3 de março de 2018

LÁ, NO MAR, ALGUM LUGAR

E foi mirando uma dança 
Aquela noite, a primeira 
Depois em meio a olhares 
Cantei pra ti arengueira 
Distante em cena a platéia 
Te chamo em pensamento 
Esqueço por um momento 
De toda aquela odisseia 

Lá, no mar, algum lugar 
Me apresentou o Oriente 
Veio em meus sonhos morar 
E a mais linda menina 
Em mais de cem poesias 
Foi minha inspiração 
Pra ela fiz a canção 
Que canto todos os dias 

Pus a mochila nas costas 
Saí contando meus passos 
Pra encontrá-la sorrindo 
Correndo para os meus braços 
Em quarto alheio ao presente 
Calor do tempo, de nós 
Cumplicidade a sós 
Fora, um olhar inocente 

Lá, no mar, algum lugar 
Deletadas da memoria 
Menina, nossas conversas 
Mas toda a nossa história 
Tá bem guardada comigo 
Está no meu coração 
Está em cada canção 
Já não estão em perigo.

         Junior Fernandes

quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

DEIXE O SABIÁ CANTAR

Num galho da seriguela 
Canta alegre o sabiá 
Embaixo tem um menino 
Com um estilingue a apontar 
Menino não faça isso 
Deixe o sabiá cantar 

Sabiá cantou, cantou 
Alegre e a alegrar 
Mas o malvado menino 
Seguia a apontar 
Menino não faça isso 
Deixe o sabiá cantar 

Sabiá logo parou 
Não estava mais a cantar 
Curioso e inocente 
Firmou no menino o olhar 
Menino não faça isso 
Deixe o sabiá cantar 

Foi o malvado menino 
No sabiá atirar 
E o pobre do bichinho 
Veio no chão a tombar 
Menino não faça isso 
Deixe o sabiá cantar 

O sabiá não mais canta 
Ali naquele lugar 
A seriguela entristece 
Com a morte do sabiá 
Que por causa do menino 
Nunca mais irá cantar.

                Junior Fernandes

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

Soneto


INSANA IDADE

Insana idade causa-me tormentos
Uma grande inquietação em minh’alma
Aos poucos livra-me de toda a calma
Embaraçando assim meus pensamentos

Insana idade, lembra-me momentos
Que os vejo bem na minha mão, na palma
Ao certo que um ou outro me acalma
Mas há os que vêm com outros sentimentos

Insana idade, lembra o que magoou
Que em tristes prantos minh’alma deixou
Que ao lembrar-me traz em mim amargura.

Insana idade, lembra o que passou
O que muito em minha vida marcou
Que até o fim lembrarei com ternura  

                                      Junior Fernandes
   
                 


quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

EU

Quer me conhecer melhor? 
Não pergunte de mim aos outros, pois alguns dirão que sou uma boa pessoa
Enquanto outros dirão o contrário, muitos têm opiniões diferentes.
Não vá saber sobre mim apenas olhando nas redes sociais, ela na maioria das vezes mascaram as pessoas, não mostram o que realmente são.
Quer me conhecer melhor?
Não vá escutar boatos, eles nunca vêm de pessoas com boas intenções e geralmente são conversas distorcidas.
Não dê muita atenção a quem não me conhece, sei que não sou a melhor pessoa do mundo, mas sei também que não sou tão ruim.
Quer me conhecer melhor?
Venha conversar comigo, prosear, bater um papo, mesmo que por alguns minutos, aí sim você mesmo tire suas próprias conclusões.
De preferência, uma conversa olhando dentro dos olhos, pois como já foi falado em um poema de um autor por mim conhecido, o olhar é a porta da alma.



Junior Fernandes

terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

LIVRAI-ME

Livrai-me da má querência 
Bem querência mal querida 
Felicidade enrustida 
De saber sem sapiência 
Livrai-me dessa decência 
Que torna tudo indecente 
Ser ser – humano, ser gente 
Serpentes racionais 
De venenos raciais 
Fere princípio, a mente 

Livrai-me da educação 
Que pode me deixar mudo 
Sem poder falar de tudo 
Que penso de coração 
Livrai-me dessa canção 
De letras infectadas 
Sem idéias, descartadas 
Corrompendo as culturas 
Criadas por criaturas 
Estultas e sem noção 

Livrai-me do abatimento 
De tornar-me ultrapassado 
De tudo por mim criado 
Cair no esquecimento 
Livrai-me do julgamento 
Desses falsos julgadores 
Que são todos detentores 
Da mais pura hipocrisia 
De toda esta fantasia 
Que faz de todos senhores 

Livrai-me da falsidade 
Que domina este mundo 
Pois este é um mal profundo 
Que corrompe a humanidade 
Livrai-me da liberdade 
Que nos torna prisioneiros 
E que nossos cativeiros 
É todo esse sistema 
Onde o principal esquema 
É nos tornar forasteiros.

                                                                     Junior Fernandes

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

Antetempo

Foi-se o tempo da parteira 
E do curado de cobra 
Da qualidade que sobra 
Das rezas da rezadeira 
Daquela sortida feira 
Que de tudo se achava 
Sacos com feijão e fava 
Com suas bocas abertas 
Donas de casa espertas 
Que pra comprar pechinchava 

Foi-se o tempo do cangaço 
Dominando a caatinga 
Beber água da moringa 
Pra amenizar o mormaço 
Do rangido do chumaço 
Dos carros-de-boi cantando 
Os bois pacientes levando 
Com força e com empenho 
A cana para o engenho 
Esse moendo e criando 

Foi-se o tempo em que a criança 
Lá no terreiro brincava 
Seu belo pião rodava 
Como os passos de uma dança 
Da verdadeira festança 
Nas noites de São João 
Que animavam o sertão 
E enriqueciam a cultura 
Enaltecendo a candura 
Do Nordeste essa nação 

Foi-se na foice do tempo 
Trespassada sem piedade 
E toda a modernidade 
Transformou em contratempo 
Num infeliz antetempo 
Tudo está quase esquecido 
Quem a tudo foi vivido 
Fica só com a saudade 
Foi-se a felicidade 
Vem-se um coração ferido.

                                            Junior Fernandes

sábado, 17 de fevereiro de 2018

Soneto


EM SEGREDO

Como a canção á espera ser ouvida 
Ou um poema à espera de ser lido 
Um belo sonho à espera de ser vivido 
Uma promessa à espera de ser cumprida 

Cada lembrança de antes, esquecida 
Todo momento agora é preferido 
Cada afago mesmo sendo escondido 
É das coisas de agora, a preferida 

A cada abraço enlaça mais o afeto 
Desejo de estar um, do outro perto 
Satisfazer de todos seus ansejos 

Querer-se a seguir os mesmos passos 
Mostrar a outros olhos seus abraços 
Não ter que esconder os vossos beijos.

                                          Junior Fernandes